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Foto do escritorRubria Liliane

WILD WILD COUNTRY - O QUE EU APRENDI COM MA ANAND SHEELA

Atualizado: 11 de set. de 2023


Sheela ao lado do guru Bhagwan.
Imagem do acervo do documentário Wild Wild Country na Netlifx.

Recentemente eu estudei um documentário sobre a seita Wild Wild Country, que relata toda a saga de uma cidade utópica idealizada por um guru indiano Bhagwan Shree Rajneesh (mais tarde conhecido como Osho), construída nos EUA em Wasco Country, Oregon, liderada por sua leal secretária Ma Anand Sheela.


A história é sobre a seita, porém envolta no papel que Sheela teve no processo, e na repercussão de suas ações para tornar real o mundo ideal pregado pelo guru aos seus seguidores.


Ma Anand Sheela foi acusada de diversos crimes nos EUA, entre eles, envenenamento de uma cidade inteira, tentativa de assassinato do procurador geral de Oregon nos EUA, falsificação de documentos de imigração, e de espionagem fora e dentro da própria comunidade Rajneesh.


Tudo isso aconteceu no auge de 1980, e em 1985 Sheela foi condenada a 20 anos de prisão, porém saiu em aproximadamente em 36 meses por bom comportamento.


Hoje com 70 anos, Sheela vive na Suiça e administra um abrigo para pessoas com deficiência, ela também faz palestras sobre sua vida, sobre o caminho percorrido e tudo o que aprendeu com ele, além de ter lançado diversos livros sobre sua trajetória.


Ela é uma personagem real muito intrigante, e por mais que você fique negativamente impactado com toda a saga construída envolta de suas ações, eu me peguei incrivelmente fascinada por ela.


O fato de uma mulher colocar todos os recursos que tinha para realizar e fazer acontecer o que ela acreditava foi admirável de assistir, principalmente na década de 80 nos EUA.


Aliado as brechas das leis dos EUA na época, os Rajneeshs saíram da Índia e se instalaram em uma propriedade de 64.229 acres comprada para realizar o sonho da comunidade perfeita, colaborativa e livre.


Dentro da comunidade que construíram havia pessoas de vários países que se juntaram ao movimento, e para uma base social tinham todo o acervo de talentos, como médico, enfermeira, advogados, professores, arquitetos, prefeito, escola e toda a estrutura social para uma cidade funcionar.


A construção da cidade autossuficiente se tornou possível pela escolha do local. O território pertencia a uma cidade pacata, praticamente feita por aposentados que queriam uma vida lenta e tranquila, um local sem muita vida e quase esquecida pelas grandes cidades movimentadas.


A grande questão de toda a saga Rajneesh nos EUA, parece que foi em cima de preconceitos e intolerância religiosa, mas também pelo país se sentir ameaçado pelas atitudes de Sheela em relação as suas agressivas investidas de conquista de território americano.


Basicamente os Rajneesh declaram guerra de território ao condado de Wasco, e na época até o procurador geral de Oregon se envolveu para combater o avanço dessa comunidade indiana.


Dentro desse conflito aconteceram incêndio criminoso, tentativa de envenenamento da cidade, conspiração de assassinato contra pessoas influentes representantes do povo americano, inúmeras fraudes de imigração, fraudes na votação, contrabando de drogas ilícitas, além de diversas práticas suspeitas dentro da própria comunidade Rajneesh.


A comunidade se desfez após Sheela deixar a comunidade, Bhagwan ser processado e preso ao tentar fugir, o qual morreu alguns anos depois.


Sheela após sair da comunidade não olhou para trás, nunca mais teve contato com seu mestre, e seguiu seu próprio caminho.


Os ensinamentos e as práticas religiosas ensinadas por Bhagwan permanecem vivas até hoje na Índia e pelo mundo.


Por volta dos anos 90, o local foi comprado pela empresa Washington Construction e hoje parte do território funcionam 2 acampamentos de verão para jovens cristãos.


Mas o foco desse post é sobre Sheela.


Duas fotos de Sheela, a primeira atualmente com 70 anos, e a segunda no auge dos anos 80.

Ela foi uma mulher que quebrou todos os paradigmas em sua jornada, não apenas nesses poucos anos causando todas nos EUA, mas até hoje em sua velhice.


Quando paramos para refletir, se fosse um homem no lugar de Sheela, a repercussão negativa teria sido 50% menor, pois para a sociedade já é esperado que o homem tenha a capacidade de administrar uma cidade, fazer grandes negócios, tomar decisões absurdas e difíceis.


Sheela conseguiu fazer com que diversas mulheres tivessem posições sociais importantes dentro da comunidade construída em Oregon.


Ela administrava uma cidade, era porta voz de Bhagwan, não tinha medo de nada, deu poder e riqueza a comunidade, levou segurança, lutou com unhas e dentes pela prosperidade da comunidade e conseguiu ser admirada pela sua história.


Sheela não estava na comunidade pela religião, ela estava lá pois tinha capacidade de fazer acontecer e tomar decisões que ninguém faria.


Ela conseguiu estar em vários lugares ao mesmo tempo, conseguia ser ouvida e respeitada, e apesar de suas atitudes excêntricas, ela tinha todas as características de uma governante.

Não era uma governante complacente e amorosa, mas era uma liderança que na situação em que se encontrava, sempre na defensiva por estar em território estrangeiro e vivendo diversos preconceitos, tinha pulso firme e desafiava qualquer um que duvidasse de sua capacidade por ser mulher e indiana.


Os destaques da vida de Sheela está nesses eventos, mas uma pessoa assim não se resume a essa passagem da vida, a construção do perfil de uma mulher forte não está nos momentos de sua glória ou da fama, e sim nos momentos de desventuras.


No momento em que Sheela decidiu deixar Bhagwan e sua comunidade por conta da crise (muitos citam abandono da comunidade) e tudo o que tinha construído para trás, ela se preparou e foi embora, e nunca mais olhou para trás.


O Osho ficou nervoso, a desmoralizou em público, iniciou uma caça as bruxas e acabou metendo os pés pelas mãos pois os EUA acabaram o perseguindo.


Será que Bhagwan teria alcançado a fama e a riqueza que tinha se não fosse por Sheela?

A resposta é não.


Bhagwan não tinha se tornado o Osho sem Sheela.


Após muitos anos, as pessoas ainda voltam a perguntar sobre as mesmas coisas do passado, são saudosas com a Sheela jovem e ousada que fez da religião Rajneesh um sucesso mundial.


As acusações contra Sheela, em sua maioria foi negada por ela mesma no documentário seguinte ao Wild Wild Country, o “Em Busca de Sheela” na Netflix, onde Sheela volta a Índia após 35 anos, e visita o lugar onde cresceu, e relembra sua infância.


Foto de Sheela atualmente, no documentário Em Busca de Sheela, na Netflix.

Em sua viagem a Índia, Sheela é recebida por admiradores locais, convidada a entrevistas em programadas da internet e da TV.


O que pude notar é que, ela continua a mesma:

- Fora do padrão social que muitos esperam;

- Firme com suas expectativas de vida;

- Não se deixa abater;

- Segue como exemplo de força feminina diante das adversidades;

- Não tem religião;

- Defende tirar lições do passado, e não o remoer;

- Não se arrepende de nada grandioso que fez;

- Continua sua admiração pelo Osho e pratica o que aprendeu com ele.


O que podemos aprender sobre a história de Sheela é que todos passam por adversidades durante o caminho da vida, e sendo mulher essas adversidades, no geral, tendem a ter mais peso.


A grande questão aqui é que o meio social sempre espera algo de você: que siga o padrão; que obedeça às regras; que não se destaque; e em caso de fazer algo errado, a mulher sempre precisa ser lembrada sobre o ocorrido enquanto ela viver; e que seguir em frente é errado, pode parecer que a pessoa não se arrepende, ou que tem mais direito a vida que os outros.


Sheela errou, acertou, chorou, fugiu, mudou de caminho, passou pelo que tinha que passar para seguir em frente, e seguiu, continuou andando. Por que ela tem que se sentir menor ou não merecedora de sua vida? Ela já não pagou dentro das regras?!


Bhagwan tinha riquezas, luxo, conforto e mordomia em cima dos seus seguidores, comungava com tudo o que Sheela lhe proporcionava, mas ele é adorado até hoje, mesmo após sua morte.


Cada um tem seu caminho, cabe a cada um fazer dele o melhor que puder ser.





Rubria Liliane

Jornalista, escritora entusiasta.

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